quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Palestra de kerchove pela internet

A Fundação Biblioteca Nacional e o Programa de Pós
Graduação em Comunicação da UERJ realizam a palestra
"Novos Hábitos de Leituras na Cibercultura", com o
Prof. Dr. Derrick deKerckhove, Diretor do McLuhan
Program in Culture and Technology, da Universidade de
Toronto. A palestra, que ocorrerá no dia 05/11, das 15hs às
17hs, terá transmissão online pela Embratel.
www.institutoembratel.org.br (acesse TV PontoCom).

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Regiões intermediárias

As questões se multiplicam. É que terrenos móveis são difíceis de tocar. Eles apresentam a vizinhança súbita de coisas, a princípio, sem relação. Foucault, em “As palavras e as coisas”, comenta o desconcerto provocado por regiões intermediárias, regiões já não recobertas por uma determinada ordem cultural e que, no entanto, ainda não apresenta uma nova ordem claramente legível. Será que estamos diante de regiões como estas? Regiões onde a cultura se distancia de algumas ordens que lhes são prescritas e ao mesmo tempo faz aparecer os elementos espontâneos que serão em si mesmo ordenáveis? Os trabalhos sobre esses formatos emergentes trazem características que nos ajudam a refletir sobre algumas tendências. Eles indicam mudanças que dizem respeito a elementos organizadores da experiência. Seriam estes alguns dos elementos espontâneos que sugerem a emergência de uma nova ordem cultural?

Blogosfera e Videoblogs

O trabalho do Igor vem trazer um novo elemento para a discussão. Ele observa os videoblogs também como um espaço de construção de narrativas através dos processos de interação e colaboratividade. Trata-se, no entanto, de uma outra qualidade de narrativa. Primeiro por sua condição híbrida – mescla de textos e imagens. Segundo pelo total descompromisso com as noções de gênero e de estilo que dizem respeito às obras literárias. As narrativas que emergem dos videoblogs ocupam o domínio da vida íntima e cotidiana e se definem muito mais pelas formas de exposição do “eu” do que pela temática ou pela estrutura narrativa. Nesses territórios limites, onde o íntimo se publica, a produção colaborativa aparece como uma congruência de trajetórias, um entrelaçamento de percursos subjetivos que constitui significado pelas frequentações, solidariedades e conflitos que emergem no instante da interação e não por uma seqüência temporal. A esse respeito me lembro de Michel de Certeau e as “artes de fazer” quando observa que nas operações que os indivíduos realizam sobre a linguagem eles se apropriam da língua e abrem um espaço que é relacional. Nesse espaço relacional há sempre a introdução de um interlocutor e um ato pelo qual o “eu” se coloca. Essa entrada do sujeito instaura um presente. Isso porque, pra Certeau, o presente é “a fonte do tempo”: ele organiza “uma temporalidade (o presente cria um antes e um depois) e a existência de um ‘agora’ que é presença no mundo”. Desse modo podemos nos perguntar se as experiências apresentadas pelos videoblogs apresentam uma forma da colaboratividade que se define pela entrada do sujeito em uma rede relacional. As realizações que se fundam nesse ambiente emergem de um entrelaçamento de encontros puramente circunstanciais? Ou seja, dos contágios que dispensam qualquer finalidade (pois são indissociáveis do instante presente)? Para além da produção de significado: o que fixa os laços de modo que as pessoas continuem freqüentando o ambiente e se envolvendo em interações que criam narrativas imprevisíveis, quando não ilegíveis?

Ciberconto

O estudo da Paula sobre ciberconto, ao percorrer as tensões que o definem em relação à literatura impressa, traz um novo parâmetro para pensar a colaboração: sua relação com a estrutura da narrativa. Considerando que a narrativa é uma forma de organização da experiência (na medida em que ela se serve de uma combinatória sequencial na construção do significado), podemos perguntar: em que medida a própria narrativa funciona como elemento organizador da produção colaborativa? E, por outro lado, na estrutura do ciberconto podemos pensar que os processos de interação constituem, em si, a razão de ser da narrativa? Essa questão remete a outra que formulei há pouco: podemos pensar que as estruturas da cibernarrativa revelam a emergência da colaboratividade como um novo valor cultural? Valor esse capaz de funcionar como princípio organizador da experiência? Valor também capaz de endossar uma primazia do processo sobre o resultado final? E isso, de modo a considerar que o que realmente importa passa a ser a relação, o processo interativo? Processo esse que se organiza pela própria estrutura narrativa? Quais seriam, então, os critérios que constituem essa estrutura narrativa enquanto elemento organizador?

Produção colaborativa

Agora, ampliando a questão para a mesa: a idéia de produção colaborativa que aparece de maneira recorrente como uma das características que definem esses novos formatos indica uma nova tendência cultural que emerge das redes sócio-técnicas? Para pensar essa questão é preciso destrinchar um pouco mais a idéia de produção colaborativa que é ainda muito difusa. A rigor, existe produção colaborativa desde que existe divisão social do trabalho. No entanto, ela aparece sob nova forma quando agenciada com os recursos das tecnologias da rede. E, mesmo na Internet, ela é realizada de maneiras muito diversas. Tim O`Reilly chama a atenção para as diferentes arquiteturas tecnológicas de participação. Algumas exigem a presença de pessoas, de especialistas na manipulação dos bancos de dados. Eles podem receber pra isso ou se envolver voluntariamente nos processos de mediação – o que já faz uma grande diferença. Mas existem tecnologias que programam padrões para agregar dados do usuário e gerar valor pelo simples uso do aplicativo (é o modelo Napster que uitliza o compartilhamento P2P). Elas estabelecem, assim, uma forma de mediação tecnológica capaz de conectar usuário a usuário que redimensiona a idéia de produção colaborativa. Participam dos processos elementos tão heterogêneos que dificultam uma percepção daqueles que organizam a colaboração. Digo isso para chamar a atenção sobre os diferentes modos de produção colaborativa que foram apresentados e, com isso, atentar para as características que foram discutidas.

Jornalismo Colaborativo

E nos casos de jornalismo colaborativo que a Gabriela apresenta? Como se administra a questão da credibilidade nos conteúdos de modo a se desenvolver uma fidelização por parte da recepção? O que faz com que o usuário vá buscar conteúdos no OhmyNews ou no Overmundo? Um agendamento alternativo? Uma possível neutralidade viabilizada pela mediação descentralizada? A própria colaboratividade adquire valor? Ou seja, se no jornalismo de massa, a história do suporte e a autoria das notícias se apresentam como signos de credibilidade, no jornalismo colaborativo esses critérios se dissolvem e outros vêm lhe substituir? A possibilidade de interlocução entre emissores e receptores na configuração do conteúdo se torna um novo critério? No caso do OhmyNews ainda existe uma equipe de jornalistas que se apresenta explicitamente assinando a mediação. Tudo isso evoca a idéia de um rigor e de uma ordem que administra o campo de colaboração. Mas, já no caso do Overmundo, os usuários realizam todas as etapas de mediação. A garantia é muito difusa. Quais são os critérios de fidelização? Insisto: podemos supor que a própria colaboratividade adquire valor? Se assim for e (partindo da questão que Gabriela nos traz) se pudermos considerar essas novas práticas como jornalísticas, em que medida isso repercute no fazer jornalístico tradicional? As práticas colaborativas trazem novas exigências por parte da recepção?

Webjornalismo

Leobaldo nos mostra que os aspectos constitutivos da hipermídia – como o redimensionamento espaço/temporal – provocam uma reformulação das rotinas técnicas típicas do jornalismo de massa com a exigência de estabelecer novos critérios de noticiabilidade. Cabe perguntar: em que medida as novas combinatórias de operação repercutem naquelas que as antecede? Emerge daí uma nova cultura jornalística? Mais especificamente, será que podemos pensar no aparecimento de um novo valor-notícia? Se sim, como esse valor se define? É possível pensá-lo através da idéia de fidelização? Quando digo fidelização, tenho em mente a discussão de Simmel sobre a fidelidade onde ela aparece como um dos mais importantes fatores de conservação dos laços sociais. Simmel diria que a fidelidade “constrói uma ponte” que liga as mais diversas motivações individuais – sejam de caráter intelectual, prático ou sentimental – em um laço unitário de relação. Desse modo, a fidelidade pode ser considerada como uma importante força de ligação entre emissor e receptor. E, mais do que isso, é fator de conservação dessa ligação. Um leitor que é fiel a um meio em detrimento de outro, dificilmente faz implodir essa ligação. Mas fidelidade exige credibilidade – administra valores. Então, no jornalismo online, quais são as características que condicionam a fidelização? O que faz com que os leitores optem por ele e não pelos meios tradicionais, aos quais já estavam habituados? São características que remetem aos novos critérios de noticiabilidade? Rapidez? Simultaneidade? Isso nos ajuda a pensar na emergência de um novo valor-notícia?

Ponto de vista

A primeira questão que me ocorre é a seguinte: “o que caracteriza a novidade?”. Ou seja, o que faz desses formatos uma nova experiência de produção, mediação e recepção de conteúdos? Um meio pra definir a novidade é compará-la com algum formato que lhe seja similar e com o qual já estamos relativamente familiarizados. E assim, refletir sobre as relações de continuidade e de ruptura entre os novos formatos e outros mais tradicionais. Isso nos coloca sobre os fios tensos que distinguem a novidade. A idéia de tensão é bem vinda, pois ela sugere um posicionamento das partes envolvidas. Não se trata de partes confortavelmente ligadas por fios leves. Elas estão submetidas à tensão da mudança. Os comentários que elaborei e as questões que me ocorreram transcorrem nesse campo de tensão.

Formatos emergentes

"Laboratório de Redes: Outras Mediações" reuniu pesquisadores de diversas áreas do conhecimento para discutir arte, narrativa e aspectos sócio-técnicos da Internet contemporânea. A mesa “formatos emergentes” foi integralmente composta por alunos de graduação e de mestrado e apresentou questões que norteiam pesquisas em andamento. São pesquisas sobre diferentes formatos de comunicação social que se ambientam na Internet. Todos eles apresentam a emergência de novos modos de produção, de mediação e de recepção de conteúdos. Leobaldo Prado discutiu a questão dos valores-notícia no webjornalismo. Gabriela Jardim apresentou sua pesquisa de conclusão de curso sobre mediações sociais no jornalismo colaborativo. Paula Ribeiro também apresentou sua pesquisa de conclusão de curso que é sobre ciberconto. Igor Amin apresentou seu estudo sobre a blogosfera e os videoblogs. Esses trabalhos geraram várias questões que publico para que as discussões continuem em andamento aqui no Blog.

Laboratório de redes


quarta-feira, 16 de maio de 2007

O que há de novo?

Qual é a nova situação da comunicação? A web 2.0. indica a existência de uma novidade que rompe com o "modelo transmissivo" de comunicação lastreado pela díade emissor-receptor. Agora o que vemos é a emergência de um "modelo sociotécnico" como nunca existiu, ele se transpõe de uma interface lógica para uma interface gráfica esboçando uma "cultura de imersão" que dissocia o silmultâneo e o contíguo. As trocas comunicativas se passam em um ambiente informacional que as torna acessíveis a todos, a qualquer momento e em qualquer lugar. Assim, assumem a dimensão do coletivo, um coletivo engajado por colaboração. Nesse sentido, é imprescindível o engajamento em torno desse novo modelo de comunicação onde os padrões já não são pré-definidos, eles são criados nas trocas, na colaboração. Este engajamento possui um caráter cultural que suscita questões sobre a relação entre o técnico e o social, afinal, no âmbito das redes sociotécnicas, caminhamos nessa permeável fronteira. Até onde vai o social e até onde vai o técnico? Existe uma sobreposição da tecnologia sobre a vida cotidiana? Ou, ao contrário, somente agora contamos com uma tecnologia que permite a realização de um sonho de trabalho coletivo que remete aos anos 90, quando, mesmo na rede, o trabalho ainda era solitário. Esse aspecto cultural também nos leva de volta aos anos 60, quando, no Vale do Silício, emerge uma "cultura do banco de dados". De todo modo, uma consideração persiste, a de que os agenciamentos sociotécnicos estão implicados em algum tipo de subversão cultural. Se o que há de novo na comunicação é o "modelo sociotécnico" e se esse modelo se define em torno da colaboração temos que levar em conta que a emergência de um novo modelo de comunicação está articulada a uma nova forma de organização do social. O "engajamento" talvez seja uma porta de entrada para pensar essa mudança de paradigma...

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Nosso primeiro encontro foi em fevereiro de 2007. Éramos, então, cinco pessoas pensando nas plataformas colaborativas que emergem na Internet: blogs, wikis... tecnologias que caracterizam a web 2.0. Vínhamos de diferentes áreas de conhecimento, mas tínhamos em comum muitas questões e quase nehuma resposta. Decidimos fazer uma "metapesquisa" que conjuga discussão teórica com a efetivação de experimentos. Este blog é um deles, ele é a memória de nosso trabalho colaborativo e também uma ferramenta de paticipação. Nosso grupo está crescendo, hoje somos sete e a tendência é de uma contínua ampliação, com as mais diversas formas de participação. Assim como as plataformas tecnológicas, também somos um grupo emergente que constitui sua base de dados a partir do uso destas plataformas. As questões que nos movem se desdobram:

"O que acontece quando você leva padrões de interação para a hipermídia?"
"O que acontece com as interfaces através das interações?"

"Seguir as interfaces ou seguir as interações?"

"Como se produz conhecimento científico compartilhado?"

"O objeto de estudo é a experiência, o processo?"

"O que se passa entre os muitos pontos da rede que são pouco acessados?"

"A fraqueza dos laços imprime sua força através da fluidez?"

"Como transcorre a tensão entre a auto-organização e a tentação de organizar?"

"A conexão com aquilo que está fora da mídia reverbera na força dos laços?"

"Os laços fracos se organizam a partir da entrada do sujeito?"

"Qual é a passagem entre a subjetividade e a objetividade?"

"O trânsito entre o íntimo e o público é uma experiência colaborativa?"

"Como os modelos da produção colaborativa delineam uma nova escrita?"

"Estas formas emergentes de comunicação estão associadas a novas formas de subjetividade?"

"O que acontece com a autoria?"

"A colaboração produz um permanente processo?"

"Se trata de uma coexistência de memória e processo?"

"No território rede quem agenda é o coletivo?"

"Há uma inversão na relação emissor-receptor?"

"Quais são as alterações nas temporalidades?"

"É uma forma de comunicação mediada pelo tempo real?"

"O que é a colaboração neste lugar?"

"Que tipos de interação o usuário leigo pode fazer para alterar as estruturas tecnológicas?"

"Qual é a diferença entre pesquisar a rede e pesquisar na rede?"

"A questão está na natureza do objeto, por ser algo inapreensível, mutante, a vertigem do tempo presente?"

"As mediações estão sendo descentralizadas?"

"Em uma mediação sócio-técnica, o conjunto de mediadores vai sendo aprimorado pelo sistema?"

"Qaul é o mais alto grau de colaboratividade?"

"Comparando o youtube e um vlog podemos apreender dois diferentes modos de produção colaborativa?"

"Qual é o modo de organizar a colaboração que é próprio da rede?"

"Que perguntas queremos responder?"

sexta-feira, 9 de março de 2007

Primeiro Post

Grupo de Estudos Cultura em Fluxo, iniciando postagem no Blog. Mande e-mail para nós culturaemfluxo@gmail.com.