terça-feira, 30 de outubro de 2007

Jornalismo Colaborativo

E nos casos de jornalismo colaborativo que a Gabriela apresenta? Como se administra a questão da credibilidade nos conteúdos de modo a se desenvolver uma fidelização por parte da recepção? O que faz com que o usuário vá buscar conteúdos no OhmyNews ou no Overmundo? Um agendamento alternativo? Uma possível neutralidade viabilizada pela mediação descentralizada? A própria colaboratividade adquire valor? Ou seja, se no jornalismo de massa, a história do suporte e a autoria das notícias se apresentam como signos de credibilidade, no jornalismo colaborativo esses critérios se dissolvem e outros vêm lhe substituir? A possibilidade de interlocução entre emissores e receptores na configuração do conteúdo se torna um novo critério? No caso do OhmyNews ainda existe uma equipe de jornalistas que se apresenta explicitamente assinando a mediação. Tudo isso evoca a idéia de um rigor e de uma ordem que administra o campo de colaboração. Mas, já no caso do Overmundo, os usuários realizam todas as etapas de mediação. A garantia é muito difusa. Quais são os critérios de fidelização? Insisto: podemos supor que a própria colaboratividade adquire valor? Se assim for e (partindo da questão que Gabriela nos traz) se pudermos considerar essas novas práticas como jornalísticas, em que medida isso repercute no fazer jornalístico tradicional? As práticas colaborativas trazem novas exigências por parte da recepção?

4 comentários:

Geane Alzamora disse...

Mas no jornalismo colaborativo, cuja referencia parece ser mais a comunidade virtual que o jornalismo de massa, a credibilidade nao advém da confiança nos pares? Nao seria algo proximo do software livre, tal como wagner propoe?
geane

Cristina Cypriano disse...

Genial! A idéia de comunidade muda tudo. E é também uma ótima perspectiva pra pensar as práticas colaborativas em geral. Claro que pra isso é preciso refinar não somente a idéia de comunidade (virtual?)como também as especificidades de cada uma.
Cris

Gabriela Jardim disse...

Acho que outra referência que solidifica este processo de fidelização e credibilidade no jornalismo colaborativo é também a perspectiva individual. Quando o usuário percebe que aquela notícia foi escrita por alguém ou que vivenciou o fato ou que mora na cidade; transmite-se veracidade. O que alguns formatos emergentes de jornalismo colaborativo fazem é sair daquela lógica da objetividade e imparcialidade, para lógica interativa que acaba possibilitando uma lógica da imersão.

Cristina Cypriano disse...

Gabriela, seu comentário me fez pensar em algumas características das relações comunitárias. Quando se trata de comunidades pequenas, existe uma tendência à homogeneização dos indivíduos, no sentido de reforçar os laços através do compartilhamento de símbolos e signos que distinguem as comunidades entre si. Nesse caso, é a comunidade como um todo que assume aspecto de individualidade. Isso remete às comunidades que se fundam no orkut, onde o que importa são os elementos identificatórios. Os indivíduos se unem em torno desses elementos e se apresentam sob uma imagem unitária. No caso do jornalismo colaborativo, essa história muda de figura. E isso pela própria amplitude da comunidade. Digo amplitude considerando o grande número de pessoas envolvidas, a intensa mobilidade por vastas extensões territoriais, a ultrapassagem de fronteiras e o permanente contato entre grupos distintos. Nesse contexto, cresce exponencialmente a importância do ser individual. Simmel propõe uma "fórmula" que atenta pra isso: “a individualidade do ser e do fazer cresce, em geral, na medida em que se amplia o círculo social em torno do indivíduo”. Falo tudo isso para reforçar (do ponto de vista sociológico) sua impressão sobre uma perspectiva individual que adquire importância nas ligações entre os frequentadores do jornalismo colaborativo. A isso vêm se juntar as relações entre confiança e meritocracia que o Wagner nos traz. Poderíamos supor que essa saída de uma lógica da objetividade aponta para uma lógica da subjetividade? Interessante que algumas discussões do seminário sobre os processos interativos apontaram pra isso.