terça-feira, 21 de outubro de 2008

Mas o que são as redes, afinal?

Os autores Philip Vos Felman e Roxana Wright, em seu artigo Modeling terrorist network, arguem que três são os "obstáculos" para a análise e construção de um mapa exato de uma rede terrorista nos meios digitais contemporâneos: sua incompletude (os nós e as ligações que não podem ser completadas), seus limites imprecisos (quem incluir e quem não incluir na rede) e sua dinâmica (as redes não são estáticas, mas estão em constante mudança). Um outro problema: não há como medir a força entre os elos ou os nós que fazem parte da rede.

Fábio Duarte e Klaus Frey, em seu artigo Redes urbanas, com outras palavras, afirmam ser esses os desafios para a construção de um modelo teórico que possibilite uma discussão conceitual e metodológica de análise das redes. Propõem, a partir do conceito de rede, discutir a cidade, considerando os seguintes aspectos: as redes nunca formam totalidade ensimesmadas (incompletude), têm sua força na inconstância das articulações existentes e possíveis (dinâmica) e são ao mesmo tempo articuladoras e desestabilizadoras de outras redes e sistemas (limites imprecisos).

Porém, ao contrário de Duarte e Frey, Fellman e Wright consideram que os aspectos que constituem e caracterizam as redse são problemas que devem ser considerados. Reconhecem, já que buscam um modelo preditivo de comportamento, que não há como prever totalmente o seu movimento e seu fluxo.
Ora, mas não é a mobilidade a grande força motriz das redes sociotécnicas contemporâneas? A rede não é estática pela sua própria conjunação estrutural e somente existe enquanto em uma relação. A lógica das redes é a lógica das conectividade e das interações e, portanto, é precisamente em suas lacunas, suas falhas, suas brechas, seus ruídos e seus pontos de fuga que ela toma forma, influencia, é influenciada, interage, interfere, articula e desarticula outras redes e outros sistemas.

Sendo assim, o desafio conceitual e metodológico para os estudos das redes sociais contemporâneas é construir um modelo de pensamento que não desconsidere as características fundamentais que definem esse modelo relacional. Sua dinâmica, seus limites imprecisos e sua incompletude não são os seus problemas ou obstáculos, mas o motor de seu funcionamento. A metodologia mais indicada, portanto, talvez não seja a mera "representação gráfica da exploração e apresentação dos padrões indicados por dados estruturais", como defendem Fellman e Wright, já que o modelo não pode ser estático, mas pensado em seu movimento.

Para isso, sugerimos um ponto de partida para nossas próximas reflexões: a mobilidade.

Para nós, a mobilidade é fruto do processo de mediação, que é observável pela interação, cuja medida é dada pelo fluxo de informação e pelas relações entre os nós (agentes, atores...) que se estabelecem num determinado momento da rede, ou seja, em um determinado recorte espaço-temporal.

Mas, e agora, como definir o espaço e o tempo nas redes sociais digitais de comunicação? Como proceder o recorte em uma ambiência onde tanto o tempo como o espaço possuem propriedades próprias? Para essa nova etapa reflexiva, sugerimos a leitura dos artigos de Pierre Musso, Jean-Louis Weissberg e Michel Foucault, os dois primeiros no livro A Trama das Redes organizado por André Parente.
E, assim, passo a passo, vamos tentando elaborar e avançar nas discussões sobre as questões metodológicas que tanto afligem os pesquisadores da web. Pensar um modelo que dê conta de algo que é fluido, cambiante e, por isso, mesmo, praticamente inapreensível.

Um comentário:

Gabriela Jardim disse...

como definir o espaço e o tempo nas redes sociais digitais de comunicação? Concordo que a mobilidade seja um início de pensamento para esta resposta, afinal, como perceber o tempo sem entrar na lógica móvel (em todos os sentidos expostos no post) da rede?

Mas confesso que a pergunta deixada pela post é uma que tenho buscado encontrar a resposta há um bom tempo. Porém, através de exemplos de produtos que surgem da própria internet e das redes que dali surgem, esta resposta vai sendo adiada. E, na pergunta, surgem novas variáveis que influenciariam a resposta.

Parabens pelo post!!!